quinta-feira, 8 de maio de 2014

OS DATENA DA VIDA - por Enio Mainardi

Antes de tudo, uma declaração: eu gosto do Datena. Somos amigos, sem convivência. Teve uma época em que acompanhei o trabalho dele, profissionalmente, na Band.

Dito isso, lá vamos nós. Qual é a sua opinião: você acha que programas policiais fazem bem…ou mal? Pergunto isso da maneira mais simples. Sim ou não? No lado do "não" tem uma porção de argumentos. A maior parte dos deste grupo acha que programas policiais, quaisquer que sejam, só buscam o sensacionalismo barato. Pois não oferecem nenhum antídoto para o veneno que espalham.

O pai tortura e mata a mulher. Depois leva a filha de 3 anos para o mato, senta-se na frente da cadeirinha dela, retirada do carro, pensa e repensa o que vai fazer. E depois mata a menininha. As fotos no vídeo são chocantes.

O que de bom, para qualquer ser humano, tem o relato didático desse assassinato inexplicável? Tal história cruel e absurda foi contada por todos os canais de tv, cada um se esforçando para ir mais fundo nos detalhes da tragédia. Antes era o Datena que reinava praticamente sòzinho com esse tipo de programa. Hoje, quase todos o imitam, de um jeito ou de outro.

A razão ? Audiência. Como reage o povo frente essa batelada de crimes e mais crimes? Tem, evidentemente, um lado sádico em todo mundo, que finge ficar chocado com o extremo sofrimento alheio. Mas que aprecia uma boa carnificina, como se fosse à uma churrascaria. Essa gente abana a cabeça, hipocritamente e no dia seguinte comenta as execráveis histórias no escritório, tomando cafèzinho.

Tem as que acham tudo um horror, que a humanidade chegou ao fim de linha. Mas que não perdem nenhum programa.

Uma pergunta assoma claramente: mostrar crimes provoca uma descarga psicológica que acalma o stress, jamais provocando o indivíduo mentalmente sadio a cometer um ato igual? Ou estimula nos que tem cabeça mais fraca, a vontade de também matar? Porque matar virou uma banalidade.

Para você simplesmente andar na rua é preciso treinar pedestrianismo-defensivo. Ficar de olho para não ser assaltado, jamais baixar a guarda para não virar vítima e ao mesmo tempo atentar para as calçadas esburacadas ou poderá quebrar a perna.

Pode ser que haja um componente de aprendizado ao se testemunhar crimes televisivos, as pessoas cuidando de evitar que o raio também caia em cima delas, numa situação semelhante.

Pessoalmente, prefiro os programas policiais americanos. Lá eles também mostram as agressões, assassinatos – mas na maioria dos casos, a tv coloca a polícia encontrando o assassino, que é julgado. Esse é o antídoto para o stress provocado pelos shows policiais. A velha história do " crime não compensa".

Aqui não. Aqui a polícia é precária, a justiça idem e a população lincha criminosos ou até pretensos criminosos, na maior selvageria.

Meu jeito então é mudar de canal, ir para a tv a cabo e ver filmes de viagens, bichinhos, esportes radicais etc. Assim não tenho que tomar Rivotril, para tentar dormir.
(Enio Mainardi)