Há vontade de 'limpeza' no Vaticano, diz autor de livro polêmico
ROMA,
23 Mai 2012 (AFP) -O vazamento de uma centena de cartas e documentos
confidenciais enviados para o papa Bento XVI sobre questões internas demonstra a
"vontade de limpeza" dentro do Vaticano, segundo Gianluigi Nuzzi, autor do livro
"Sua Santidade, as Cartas Secretas de Bento XVI".
Para Nuzzi, que teve
acesso a uma centena de cartas confidenciais e documentos reservados dirigidos
ao Papa, o que causou irritação e espanto no Vaticano, "surgem os enfrentamentos
secretos e as armadilhas de todos os níveis" que se espalham nos palácios
apostólicos.
"Há uma vontade de limpeza", afirma Nuzzi, "são pessoas que
vivem há anos no Vaticano e que querem expulsar os mercadores do templo",
afirmou nesta quarta-feira durante uma coletiva de imprensa realizada na sede da
associação de correspondentes estrangeiros.
"Todos confiam no Santo
Padre" e sofrem por ter "violado a obrigação de manter o segredo", diz.
O
autor do mais comprometedor vazamento de documentos na história recente do
Vaticano, que por isso anunciou ações legais contra o que qualificou de crime,
afirmou que "não pagou a ninguém nem um euro" para obter essas
cartas.
"Não é um livro contra a Igreja, nem a fé, nem o Santo Padre",
enfatizou Nuzzi. O livro descreve, de fato, as manobras e confabulações dentro
do Vaticano e inclui relatórios internos enviados ao Papa sobre políticos
italianos, como Silvio Berlusconi e o presidente da República Giorgio
Napolitano.
O jornalista possivelmente teve acesso aos documentos através
de funcionários da Secretaria de Estado, já que alguns levam o selo "Reservado"
ou foram produzidos pela mesma secretaria.
Durante a apresentação do
livro, o teólogo progressista Vito Mancuso considerou que "não há dúvidas" de
que tais vazamentos têm como objetivo desqualificar o número dois da Santa Sé, o
secretário de Estado, cardeal Tarcisio Bertone, teoria não compartilhada por
Nuzzi.
O jornalista destacou que não mantém mais contatos com seus
informantes e descartou a ideia de que seu trabalho possa ser comparado com o
escândalo em 2010 do Wikileaks quando foram divulgados por internet documentos
secretos do Departamento de Estado americano.
"Nesse caso foi violada a
segurança de um país, aqui se trata de uma investigação, de um trabalho de
documentação", argumenta.
Fonte: UOL Notícias
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