sábado, 27 de julho de 2013

O cancelamento do Campus Fidei frustrou muita gente

Porta-voz da JMJ admite falha no planejamento

Os organizadores da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) admitiram que não estavam preparados para a chuva no Rio. Márcio Queiroz, porta-voz da Jornada, reconheceu que as obras em Guaratiba, na zona oeste, não previam "o pior dos cenários".

"Todas as obras foram feitas", disse. "Mas o volume de águas não era prevista para esse período. Óbvio que, em qualquer obra, nem sempre temos a previsão do pior", admitiu Queiroz.

Segundo ele, nem a chuva nem o frio são "normais". "Além
disso, a maré subiu", declarou. "São questões climáticas
que fogem da previsão", insistiu. Questionado sobre o custo da mudança e o dinheiro desperdiçado em Guaratiba, o Vaticano evitou dar uma resposta.

"Não existe no mundo dinheiro que pague a vida das pessoas", declarou Queiroz. "Não podemos ser irresponsáveis".

"As consequência de manter o evento em Guaratiba eram
sérias e avaliamos que não seria prudente fazer jovens passar noite", disse Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano.

O debate sobre onde realizar a missa final, vigília e
peregrinação chegou ao papa Francisco. "Ele indicou que aceitaria as mudanças propostas", disse Lombardi. Uma das decisões tomadas foi recomendar aos peregrinos que não durmam na praia.

"O problema é a maré, que está subindo e pode ser
perigoso", declarou Queiroz. Os fiéis serão orientados a deixar o local ao fim da Vigília de Oração, que começará às 19h30 e deve terminar às 23h. O problema é que uma parte dos fiéis viriam apenas para a vigília e a peregrinação e não tem hotel para ficar.

'De luto', Guaratiba conta prejuízo e dispara em Cabral e Paes

Moradores do bairro que receberia o Campus Fidei perdem dinheiro em investimentos e se indignam contra o prefeito e o governador do Rio

A transfer€  ência dos equipamentos do Campus Fidei e dos banheiros qu€  ímicos come€  çou a ser feita na quinta-feira Foto: Mauricio Tonetto / Terra A transferência dos equipamentos do Campus Fidei e dos banheiros químicos começou a ser feita na quinta-feira Foto: Mauricio Tonetto / Terra

Sentada sob um banco de pedra em seu restaurante em Guaratiba nesta sexta-feira, a comerciante Maria Céli estava indignada com o cancelamento da visita do papa Francisco ao bairro da zona oeste do Rio de Janeiro. "Estamos de luto, com a sensação de não termos mais futuro. Sabemos quem são os culpados", disse ela ao Terra enquanto explicava que reformou o local para dar um ar rústico e atrair peregrinos com refeições baratas em um ambiente informal. Passada a frustração da mudança da vigília e missa de encerramento para Copacabana, os alvos dos moradores de Guaratiba são claros: o governador do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito da cidade, Eduardo Paes.

"Ficamos um ano e meio sem luz e telefone direito, comendo poeira o dia todo, e vimos um desmatamento desnecessário. A gente sabia que não ia dar certo, cada estaca cravada o solo absorvia, de tão úmido. Agora todo mundo desapareceu, a frustração é extrema, e a culpa é do Cabral e do Paes, que tiveram muito tempo para trabalhar e fizeram tudo errado", criticou Maria Céli.
Um dos organizadores do trabalho de remo€  ção, que preferiu n€  ão ser identificado, disse que seria praticamente imposs€  ível carregar tudo para Copacabana Foto: Mauricio Tonetto / Terra Um dos organizadores do trabalho de remoção, que preferiu não ser identificado, disse que seria praticamente impossível carregar tudo para Copacabana Foto: Mauricio Tonetto / Terra
 
Na porta de sua casa, uma placa de "alugo casa no período do Papa" era retirada e a mercadoria estocada na manhã de hoje. Ela perdeu ao menos R$ 1 mil, deixando de servir 150 pessoas.
"A frustração não é apenas de negócio, é a expectativa toda que gerou. Queríamos trazer turistas futuramente, mas eles só têm uma ideia de Guaratiba: la-ma-çal. Acabou a possibilidade de turismo", lamentou o marido dela, Mauro Luís Dourado.

Ficamos um ano e meio sem luz e telefone direito, comendo poeira o dia todo, e vimos um desmatamento desnecessário

Maria Céli Comerciante
Perto dali, o dono de um minimercado contabilizava os prejuízos em R$ 3 mil com bebidas e comidas armazenadas.
"Investimos para ter um retorno e agora, como faço com as compras encalhadas? O prefeito e o governador pegaram o dinheiro, fizeram um aterramento de qualquer jeito e concluíram o quê?", questionou Wanderson de Oliveira Rodrigues.

"Papelão mundial"
Coordenando um grupo de 25 pessoas de Minas Gerais, o padre Clésio Ribeiro dos Santos chegou a alugar uma casa em frente ao palco principal do Campus Fidei para ficar o mais próximo possível da vigília. Ele se diz até aliviado com a transferência para Copacabana, pois assim o Brasil não fará "um papelão diante do mundo".
O dono de um minimercado contabilizava os preju€  ízos em R$ 3 mil com bebidas e comidas armazenadas Foto: Mauricio Tonetto / Terra O dono de um minimercado contabilizava os prejuízos em R$ 3 mil com bebidas e comidas armazenadas Foto: Mauricio Tonetto / Terra

"Os governos estadual e municipal tiveram dois anos e não foram capazes de preparar um local justo para que pudéssemos celebrar esse momento de modo confortável e tranquilo. Vendo a situação, dei graças a Deus que transferiram para Copacabana, pois seria feio o mundo ver um evento que parece uma mina a céu aberto. Seria um papelão diante do mundo", afirmou o religioso.

A transferência dos equipamentos do Campus Fidei e dos banheiros químicos começou a ser feita na quinta-feira. Hoje, um dos organizadores do trabalho de remoção, que preferiu não ser identificado, disse que seria praticamente impossível carregar tudo para Copacabana. São 15 postos médicos, 4,4 mil banheiros e 52 torres de som. "Faremos o que dá para fazer, é muito complicado", salientou ele.

Moradores pedem o Papa
Mesmo cientes de que o prejuízo financeiro é irreversível, a comunidade de Guaratiba ainda mantém a esperança de que Francisco faça uma visita antes de deixar o Brasil.
"Fui impedida de vender meus materiais de construção no meu terreno na última semana e perdi quase R$ 10 mil. É muita decepção, todo mundo contava com a vinda do Papa, desde o começo do ano só se falava nisso aqui. Ainda espero que ele venha e lembre-se da gente de alguma forma", disse a comerciante Kelly Cristina Pinheiro.
Este casal investiu na reforma de um pequeno restaurante, mas n€  ão ter€  á retorno financeiro Foto: Mauricio Tonetto / Terra Este casal investiu na reforma de um pequeno restaurante, mas não terá retorno financeiro Foto: Mauricio Tonetto / Terra

"Como católico, fico entristecido e envergonhado de ver nosso bairro assim. Depois de dois anos de anúncios, o cancelamento foi muito duro. Minha mulher recebeu 17 monges do Rio Grande do Sul na paróquia em que ela trabalha. Eles viriam tomar banho na nossa casa e se arrumar para ver o Papa, e agora nós temos que ir para Copacabana? Ainda espero que ele apareça aqui", completou Marcos Barros de Amorim, morador de Guaratiba.
Queríamos trazer turistas futuramente, mas eles só têm uma ideia de Guaratiba: la-ma-çal. Acabou a possibilidade de turismo
 
Mauro Luís Dourado Comerciante
O Campus Fidei foi construído em uma área de terra, que precisou passar por terraplanagem e diversas obras para receber os estimados 1,5 milhão de peregrinos.
Na tarde de quinta-feira, Eduardo Paes anunciou que, devido às chuvas que atingiram o Rio de terça a quinta, o evento teria de ser cancelado no local, sendo transferido para a praia de Copacabana. A prefeitura usou recursos próprios para urbanização de vias próximas ao terreno, construção de passarelas e limpeza e dragagem do rio Piraquê. Os custos, porém, não foram revelados.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/papa-francisco-no-brasil/de-luto-guaratiba-conta-prejuizo-e-dispara-em-cabral-e-paes,3e39088c18c10410VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html

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