Os organizadores da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) admitiram que não estavam preparados para a chuva no Rio. Márcio Queiroz, porta-voz da Jornada, reconheceu que as obras em Guaratiba, na zona oeste, não previam "o pior dos cenários".
"Todas as obras foram feitas", disse. "Mas o volume de águas não era prevista para esse período. Óbvio que, em qualquer obra, nem sempre temos a previsão do pior", admitiu Queiroz.
Segundo ele, nem a chuva nem o frio são "normais".
"Além
disso, a maré subiu", declarou. "São questões climáticas
que fogem
da previsão", insistiu. Questionado sobre o custo da mudança e o dinheiro
desperdiçado em Guaratiba, o Vaticano evitou dar uma resposta.
"Não existe no mundo dinheiro que pague a vida das pessoas", declarou Queiroz. "Não podemos ser irresponsáveis".
"As consequência de manter o evento em Guaratiba
eram
sérias e avaliamos que não seria prudente fazer jovens passar noite",
disse Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano.
O debate sobre onde realizar a missa final, vigília e
peregrinação chegou ao papa Francisco. "Ele indicou que aceitaria as
mudanças propostas", disse Lombardi. Uma das decisões tomadas foi recomendar
aos peregrinos que não durmam na praia.
"O problema é a maré, que está subindo e pode
ser
perigoso", declarou Queiroz. Os fiéis serão orientados a deixar o local
ao fim da Vigília de Oração, que começará às 19h30 e deve terminar às 23h. O
problema é que uma parte dos fiéis viriam apenas para a vigília e a
peregrinação e não tem hotel para ficar.
'De luto', Guaratiba conta prejuízo e dispara em Cabral e Paes
Moradores do bairro que receberia o Campus Fidei perdem dinheiro em investimentos e se indignam contra o prefeito e o governador do Rio
A transferência dos equipamentos do Campus Fidei e dos banheiros químicos começou a ser feita na quinta-feira Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Sentada sob um banco de pedra em seu restaurante em Guaratiba
nesta sexta-feira, a comerciante Maria Céli estava indignada com o cancelamento
da visita do papa Francisco ao bairro da zona oeste do Rio de Janeiro. "Estamos
de luto, com a sensação de não termos mais futuro. Sabemos quem são os
culpados", disse ela ao Terra enquanto explicava que reformou o
local para dar um ar rústico e atrair peregrinos com refeições baratas em um
ambiente informal. Passada a frustração da mudança da vigília e missa de
encerramento para Copacabana, os alvos dos moradores de Guaratiba são claros: o
governador do Rio, Sérgio Cabral, e o prefeito da cidade, Eduardo Paes.
"Ficamos um ano e meio sem luz e telefone direito, comendo poeira
o dia todo, e vimos um desmatamento desnecessário. A gente sabia que não ia dar
certo, cada estaca cravada o solo absorvia, de tão úmido. Agora todo mundo
desapareceu, a frustração é extrema, e a culpa é do Cabral e do Paes, que
tiveram muito tempo para trabalhar e fizeram tudo errado", criticou Maria
Céli.
Um dos organizadores do trabalho de remoção, que preferiu
não ser identificado, disse que seria praticamente impossível carregar tudo para
Copacabana Foto: Mauricio Tonetto / Terra
Na porta de sua casa, uma placa de "alugo casa no período do Papa"
era retirada e a mercadoria estocada na manhã de hoje. Ela perdeu ao menos R$ 1
mil, deixando de servir 150 pessoas.
"A frustração não é apenas de negócio, é a expectativa toda que
gerou. Queríamos trazer turistas futuramente, mas eles só têm uma ideia de
Guaratiba: la-ma-çal. Acabou a possibilidade de turismo", lamentou o marido
dela, Mauro Luís Dourado.
Perto dali, o dono de um minimercado contabilizava os prejuízos em
R$ 3 mil com bebidas e comidas armazenadas.
"Investimos para ter um retorno e agora, como faço com as compras
encalhadas? O prefeito e o governador pegaram o dinheiro, fizeram um aterramento
de qualquer jeito e concluíram o quê?", questionou Wanderson de Oliveira
Rodrigues.
"Papelão mundial"
Coordenando um grupo de 25 pessoas de Minas Gerais, o padre Clésio Ribeiro dos Santos chegou a alugar uma casa em frente ao palco principal do Campus Fidei para ficar o mais próximo possível da vigília. Ele se diz até aliviado com a transferência para Copacabana, pois assim o Brasil não fará "um papelão diante do mundo".
O dono de um minimercado contabilizava os prejuízos em R$
3 mil com bebidas e comidas armazenadas Foto: Mauricio
Tonetto / Terra
Coordenando um grupo de 25 pessoas de Minas Gerais, o padre Clésio Ribeiro dos Santos chegou a alugar uma casa em frente ao palco principal do Campus Fidei para ficar o mais próximo possível da vigília. Ele se diz até aliviado com a transferência para Copacabana, pois assim o Brasil não fará "um papelão diante do mundo".
"Os governos estadual e municipal tiveram dois anos e não foram
capazes de preparar um local justo para que pudéssemos celebrar esse momento de
modo confortável e tranquilo. Vendo a situação, dei graças a Deus que
transferiram para Copacabana, pois seria feio o mundo ver um evento que parece
uma mina a céu aberto. Seria um papelão diante do mundo", afirmou o
religioso.
A transferência dos equipamentos do Campus Fidei e dos banheiros
químicos começou a ser feita na quinta-feira. Hoje, um dos organizadores do
trabalho de remoção, que preferiu não ser identificado, disse que seria
praticamente impossível carregar tudo para Copacabana. São 15 postos médicos,
4,4 mil banheiros e 52 torres de som. "Faremos o que dá para fazer, é muito
complicado", salientou ele.
Moradores pedem o Papa
Mesmo cientes de que o prejuízo financeiro é irreversível, a comunidade de Guaratiba ainda mantém a esperança de que Francisco faça uma visita antes de deixar o Brasil.
Mesmo cientes de que o prejuízo financeiro é irreversível, a comunidade de Guaratiba ainda mantém a esperança de que Francisco faça uma visita antes de deixar o Brasil.
"Fui impedida de vender meus materiais de construção no meu
terreno na última semana e perdi quase R$ 10 mil. É muita decepção, todo mundo
contava com a vinda do Papa, desde o começo do ano só se falava nisso aqui.
Ainda espero que ele venha e lembre-se da gente de alguma forma", disse a
comerciante Kelly Cristina Pinheiro.
Este casal investiu na reforma de um pequeno restaurante,
mas não terá retorno financeiro Foto: Mauricio Tonetto /
Terra
"Como católico, fico entristecido e envergonhado de ver nosso
bairro assim. Depois de dois anos de anúncios, o cancelamento foi muito duro.
Minha mulher recebeu 17 monges do Rio Grande do Sul na paróquia em que ela
trabalha. Eles viriam tomar banho na nossa casa e se arrumar para ver o Papa, e
agora nós temos que ir para Copacabana? Ainda espero que ele apareça aqui",
completou Marcos Barros de Amorim, morador de Guaratiba.
O Campus Fidei foi construído em uma área de terra, que precisou
passar por terraplanagem e diversas obras para receber os estimados 1,5 milhão
de peregrinos.
Na tarde de quinta-feira, Eduardo Paes anunciou que, devido às
chuvas que atingiram o Rio de terça a quinta, o evento teria de ser cancelado no
local, sendo transferido para a praia de Copacabana. A prefeitura usou recursos
próprios para urbanização de vias próximas ao terreno, construção de passarelas
e limpeza e dragagem do rio Piraquê. Os custos, porém, não foram revelados.
Fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/papa-francisco-no-brasil/de-luto-guaratiba-conta-prejuizo-e-dispara-em-cabral-e-paes,3e39088c18c10410VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html
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