sábado, 5 de outubro de 2013

Brasil tem mais homicídios por ano que mortes nas guerras do Iraque, Afeganistão e Sudão somadas

Vivemos em um país em guerra, mesmo que não declarada. Esta é uma das conclusões possíveis a partir da leitura do estudo Mapa da Violência 2013, realizado pelo professor Julio Jacobo Waiselfisz, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e divulgado hoje. Cerca de 170 mil pessoas foram mortas nos 12 maiores conflitos no globo entre 2004 e 2007 (veja tabela abaixo). No Brasil, mais de 200 mil perderam a vida somente entre 2008 e 2011.
Isto tudo sem que o país viva "disputas territoriais, movimentos emancipatórios, guerras civis, enfrentamentos religiosos, raciais ou étnicos, conflitos de fronteira ou atos terroristas", lembra o levantamento.

Há dois anos - época dos últimos dados disponíveis - foram registradas mais de 50 mil mortes, o que confere ao Brasil uma taxa de 27,1 homicídios para cada 100 mil brasileiros. Desse total, cerca de 40% (18 mil pessoas) eram jovens entre 15 e 24 anos.

O número de assassinatos no Brasil é 274 vezes maior do que em Hong Kong, 137 vezes maior do que na Inglaterra e 91 vezes maior do que na Sérvia, segundo o estudo divulgado hoje. 

Veja abaixo o total de mortes nas maiores zonas de conflito do planeta na década passada: 

País2004200520062007Total de mortes
Iraque9.80315.78826.91023.76576.266
Sudão7.2841.0982.6031.73412.719
Afeganistão91710004000650012417
Colômbia2.9883.0922.1413.61211.833
Congo3.5003.7507461.3519.347
Sri Lanka1093304.1264.5009.065
Índia2.6422.5191.5591.7138.433
Somália7602858796.5008.424
Nepal3.4072.9507921377.286
Paquistão8636481.4713.5996.581
Índia/Paquistão (Caxemira)1.5111.5521.1167774.956
Israel/Palestina8992266734492.247
Total dos 12 conflitos34.68333.23847.01654.637169.574
"São números tão altos que torna-se difícil, ou quase impossível, elaborar uma imagem mental, uma representação de sua magnitude e significação", afirma Jacobo, autor da pesquisa.

Segundo o sociólogo, a cultura da violência (caracterizada pelo hábito de resolver conflitos por meio da agressão), a certeza da impunidade (apenas 4% dos assassinos vão para cadeia) e a indiferença da sociedade com o grande número de mortes estão entre as causas do fenômeno. "A vida humana vale muito pouco", resume o pesquisador, que é argentino. 

É preciso observar que a magnitude da violência vista no país não tem equivalência nas nações que possuem dimensões e populações maiores ou similares à brasileira. Só o México chega perto.

PaísAnoPopulação (milhões)HomicídiosTaxa por 100 mil habitantes
Brasil2010190,852.26027,4
México2011112,524.82922,1
Rússia2010142,518.95113,3
Filipinas200896,112.52313
Nigéria2008164,418.42212,2
Indonésia2008234,218.9638,1
Paquistão2010170,313.2087,6
USA2010301,616.1295,3
Índia20101.184,6041.7263,4
Bangladesh2010158,33.9882,7
China20101.33913.4101
Japão2011125,84150,3

De acordo com o estudo, o número de assassinatos no país cresceu mais de 200% entre 1980 e 2011. Se considerarmos apenas as mortes violentas entre jovens no mesmo período, o aumento é ainda maior: 326% 

Para Jacobo, a tendência nos próximos anos é que grandes cidades como Rio e São Pauloatinjam um nível estável de violência se continuarem investindo em segurança pública – podendo reduzir ainda mais essas taxas com esforços concentrados em áreas como saúde e educação.

Por outro lado, o sociólogo adverte que se nada for feito em regiões onde o número de assassinatos vem crescendo, como Pará e Alagoas, um novo aumento nos índices nacionais de violência poderá ser registrado. 

Num levantamento sobre o tema com 89 países, o Brasil fica em sétimo lugar.

"O quadro comparativo internacional já foi bem pior para o Brasil", revela Jacobo. Segundo ele, o país era o segundo colocado do ranking da morte em 1999, atrás apenas da Colômbia. De lá para cá, a taxa de homicídios no país não parou de crescer, embora o Brasil tenha perdido posições na lista.

O sociólogo explica que esse "recuo relativo" se deveu "ao crescimento explosivo da violência em vários outros países do mundo", como El Salvador, Guatemala e Venezuela.

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