Desaceleração econômica estoura 'bolha' de entusiasmo com o Brasil no
exterior
A
desaceleração da economia brasileira estourou o que muitos analistas acreditam
ter sido uma "bolha" de entusiasmo pelo Brasil no exterior.
Esse ritmo
mais lento da economia brasileira foi confirmado nesta sexta-feira com a
divulgação dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) pelo IBGE. Segundo os
números, no primeiro trimestre deste ano, o Brasil cresceu apenas 0,2% em
relação aos três últimos meses de 2011.
Na segunda metade dos anos 2000,
quando o Brasil ganhou a preferência de investidores estrangeiros, os holofotes
da mídia internacional e, de quebra, o direito de sediar uma Olimpíada e uma
Copa do Mundo, o termo "Brasilmania" passou a ser usado para referir-se ao
crescente interesse internacional pelo país.
Agora, não só o fenômeno
parece estar perdendo força como já há especialistas denunciando "exagero" nas
análises negativas sobre a economia brasileira.
Um desses analistas é Jim
O'Neill, economista do Goldman Sachs conhecido por criar o termo Bric (Brasil,
Rússia, Índia e China)."Os mercados financeiros costumam ir de um extremo a
outro quando suas expectativas sobre um país não são confirmadas", disse O'Neill
à BBC Brasil.
"As previsões para o crescimento brasileiro eram muito
elevadas, principalmente depois da alta de 7,5% do PIB em 2010, e ajustes eram
necessários. Mas agora há análises que estão exagerando problemas e riscos para
o Brasil."
Exagero
Richard Lapper, diretor do Brazil Confidential,
o serviço de análises sobre o Brasil do jornal britânico Financial Times,
concorda. "No mercado, o clima é de que a festa brasileira acabou", relata
Lapper. "É como se de repente alguns analistas tivessem descoberto que o Brasil
tem problemas."
Entre os "exageros" segundo Lapper, estariam a análise de
Ruchir Sharma, do Morgan Stanley, que defendeu, na revista Foreign Affairs, que
da mesma forma como o Brasil subiu com os preços das commodities, pode cair com
uma eventual desvalorização dos mesmos provocada pela desaceleração da economia
chinesa.
Nouriel Roubini, economista conhecido por prever o colapso do
mercado imobiliário americano, também voltou de uma viagem pelos Brics, em
fevereiro, recomendando um "choque de realidade" em relação ao
Brasil.
Para Neil Shearing, da consultoria Capital Economics, em Londres,
um dos analistas "decepcionados" com o Brasil, o problema é que o crescimento
brasileiro ficou atrás não só dos outros Brics, mas também de outros
latino-americanos, como o México: "Havia uma bolha de entusiasmo pelo Brasil - e
agora ela estourou", diz.
Cobertura negativa
A mudança nas percepções
em relação ao Brasil é evidente no tom da cobertura sobre o país em alguns
veículos da imprensa internacional.
Em um artigo recente para a Foreign
Policy, por exemplo, o escritor e jornalista Bill Hinchberger defendeu que o
crescimento de 2,7% do PIB em 2011, fez o Brasil "acordar em uma quarta-feira de
cinzas" de ressaca da euforia do crescimento da década passada. "O carnaval
acabou", anunciou Hichberger.
No fim de 2009, uma capa da revista
britânica The Economist trazia o Cristo Redentor alçando voo nos céus do Rio de
Janeiro. "O Brasil decola", anunciava. No mês passado, a mesma revista ilustrava
um artigo sobre as "fraquezas" da economia brasileira com uma imagem bem menos
grandiosa: um boi debatendo-se para tentar sair de um pântano.
As
incertezas em relação ao Brasil são alimentadas tanto por fatores internos
quanto externos.
Além de o país estar crescendo menos que outros
emergentes, há preocupações com as baixas taxas de poupança e investimento, o
chamado Custo Brasil (excesso de burocracia, déficit de infraestrutura, etc) e a
relativa falta de crescimento na produtividade da indústria.
Como
escreveu Marcos Troyjo, da Universidade de Columbia, em um artigo para a BBC
Brasil, apesar de a Brasilmania ter feito muitos acreditarem que o PIB do Brasil
"estava destinado a um ascensão irresistível e sem escalas", o país não aumentou
muito sua fatia da economia global na última década e só consegui tornar-se a
sexta economia do mundo por causa do real valorizado.
No plano
internacional, o foco das preocupações hoje são as incertezas sobre a zona do
euro e a as perspectivas de um desaquecimento da China – cenário que levaria a
uma redução das exportações brasileiras e desvalorização das
commodities.
Para Lapper esses fatores e a desaceleração brasileira podem
assustar investidores de curto prazo, mas para os de médio e longo prazo as
perspectivas ainda são muito boas. "O mercado consumidor do país é forte e
setores como agronegócio, gás e petróleo continuarão a oferecer ótimas
oportunidades de negócio."
Imagem
Ainda não está claro quanto esse
ajuste de expectativas sobre a economia brasileira no mercado e imprensa
internacionais pode alterar a imagem do país com a opinião pública em geral em
países estrangeiros.
O consultor britânico Simon Anholt, que faz um
ranking com as nações mais admiradas do globo diz que as mudanças ocorrem
lentamente nessa área e nem sempre acompanham questões ligadas a desempenho
econômico.
"O Brasil era em 2011 o único país em desenvolvimento entre os
20 mais admirados", explica. "Mas curiosamente a sua imagem mudou pouco mesmo
nos anos de bonança, estando fundamentalmente ligada a chavões como futebol e
carnaval. É um país que desperta carinho, mas não respeito."
Ruth Costas
Da BBC Brasil em Londres
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