"Se há um remédio capaz de gerar lucros,
deve haver consumidores”.
Como a indústria farmacêutica conseguiu
que um terço da população dos Estados Unidos tome antidepressivos, estatinas, e
estimulantes?
Vendendo doenças como depressão,
colesterol alto e refluxo gastrointestinal. Marketing impulsionado pela oferta,
também conhecido como “ existe um medicamento – precisa-se de uma doença e de
pacientes”.
Não apenas povoa a sociedade de hipocondríacos viciados em remédios , mas desvia os laboratórios do que deveria ser seu pepel essencial: desenvolver remédios reais para problemas médicos reais.
Claro que nem todas as doenças são
boas para tanto. Para que uma enfermidade torne-sc campeã de vendas, ela deve:
(1) existir de verdade, mas ser constatada num diagnóstico que tem margem de manobra, não dependendo de um exame preciso;
(1) existir de verdade, mas ser constatada num diagnóstico que tem margem de manobra, não dependendo de um exame preciso;
(2) ser potencialmente séria, com
“sintomas silenciosos” que “só pioram” se a doença não for tratada;
(3) ser “pouco reconhecida”, “pouco relatada” e com “barreiras” ao tratamento;
(4) explicar problemas de saúde que o paciente teve anteriormente;
(5) precisar de uma nova droga cara que não possui equivalente genérico.
(3) ser “pouco reconhecida”, “pouco relatada” e com “barreiras” ao tratamento;
(4) explicar problemas de saúde que o paciente teve anteriormente;
(5) precisar de uma nova droga cara que não possui equivalente genérico.
Aqui estão algumas potenciais doenças da
moda, que a indústria farmacêutica gostaria que você desenvolvesse em
2012:
Déficit de atenção com hiperatividade em
adultos :
Problemas cotidianos rotulados como
“depressão” impulsionaram os laboratórios nas últimas duas décadas. Você não
estava triste, bravo, com medo, confuso, de luto ou até mesmo sentindo-se
explorado. Você estava deprimido, e existe uma pílula para isso. Mas a depressão
chegou a um ápice, como a dieta Atkins e Macarena. Com sorte, existe o
transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (DDAH) em adultos. Ele
dobrou em mulheres de 45 a 65 anos e triplicou em homens e mulheres com 20 a 44
anos, de acordo com o Wall Street Journal.
Assim como a depressão, a DDAH em adultos
é uma categoria que pode englobar tudo. “É DDAH ou menopausa?” pergunta um
artigo na Additude, uma revista voltada exclusivamente à doença DDAH. “DDA e
Alzheimer: essas doenças estão relacionadas?” pergunta outro artigo da mesma
revista.
Estou deprimida, pode ser DDAH?” diz um
anúncio na Psychiatric News, mostrando uma mulher bonita, mas triste. Na mesma
publicação, outro anúncio diz “promessas quebradas – adultos com DDAH têm quase
duas vezes mais chances de se divorciar”, enquanto estimula médicos a checar a
presença de DDAH pacientes para DDAH em seus pacientes.
Adultos com DDAH são normalmente “menos
responsáveis, confiáveis, engenhosos, focados, autoconfiantes, e eles encontram
dificuldades para definir, estabelecer e propor objetivos pessoais
significativos”, diz um artigo escrito pelo dr. Joseph Biederman, psiquiatra
infantil de Harvard, que leva os créditos por colocar “disfunção bipolar
pediátrica” no mapa. Eles “mostram tendências de ser mais fechados,
intolerantes, críticos, inúteis, e oportunistas” e “tendem a não considerar
direitos e sentimentos de outras pessoas”, diz o artigo, numa frase que poderia
ser usada por muitas pessoas para definir seus cunhados.
Adultos com DDAH terão dificuldade em se
manter em um emprego e pioram se não forem tratados, diz WebMD, apontando para o
seguindo requisito para as doenças campeãs de venda – sintomas que se agravam
sem medicação. “Adultos com DDAH podem ter dificuldade em seguir orientações,
lembrar informações, concentrar-se, organizar tarefas ou completar o trabalho no
prazo”, de acordo com o site, cujo parceiro original era Eli
Lilly.
Como as empresas farmacêuticas conseguiram
fazer com que cinco milhões de crianças, e agora talvez seus pais, tomem
remédios para DDAH? Anúncios em telas de 9 metros por 7, quatro vezes por hora
na Times Square não vão fazer mal. Perguntam: “Não consegue manter o foco? Não
consegue ficar parado? Seu filho pode ter DDAH?” (Aposto que ninguém teve
problemas em se focar neles!).
Porém, convencer adultos que eles não
estão dormindo pouco, nem entediados, mas têm DDAH é apenas metade da batalha.
As transnacionais farmacêuticas também têm que convencer crianças que cresceram
com o diagnóstico de DDAH a não pararem de tomar a medicação, diz Mike Cola, da
Shire (empresa que produz os medicamentos para DDAH: Intuniv, Addreall XR,
Vyvanse e Daytrana). “Nós sabemos que perdemos um número significativo de
pacientes com mais ou menos vinte anos, pois saem do sistema por não irem mais
ao pediatra”.
Um anúncio da Shire na Northwestern
University diz “eu lembro de ser uma criança com DDAH. Na verdade, eu ainda
tenho”, a frase está escrita em uma foto de Adam Levine, vocalista do Maroon 5.
“É sua DDAH. Curta”, era a mensagem subliminar. (O objetivo seria: “continue
doente”?).
Claro, pilhar crianças (ou qualquer um, na
verdade) não é muito difícil. Por que outra razão traficantes de metanfetamina
dizem que “a primeira dose é grátis”? Mas a indústria está tão empenhada em
manter o mercado pediátrico de DDAH que criou cursos para médicos. Alguns
exemplos: “Identificando, diagnosticando e controlando DDAH em estudantes”. Ou
“DDAH na faculdade: procurar e receber cuidado durante a transição da infância
para a idade adulta”.
Para assegurar-se de que ninguém pense que
a DDAH é uma doença inventada, WebMD mostra ressonâncias magnéticas coloridas de
cérebros de pessoas normais e de pacientes com DDAH (ao lado de um anúncio de
Vyvanse). Mas é duvidoso se as duas imagens são realmente diferentes, diz o
psiquiatra Dr. Phillip Sinaikin, autor de Psychiatryland. E mesmo que forem,
isso não prova nada.
O ponto central do problema é que
simplesmente não existe um entendimento definitivo de como a atividade neural
está relacionada à consciência subjetiva, a antiga relação não muito clara entre
corpo e mente”, Sinaikin contou ao AlterNet. “Não avançamos muito além da
frenologia, e esse artigo do WebMD é simplesmente o pior tipo de manipulação da
indústria farmacêutica a fim de vender seus produtos extremamente caros. Nesse
caso, um esforço desesperado da Shire para manter uma parte do mercado quando o
Addreall tiver versão genérica”.
Artrite Reumatóide :
A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença
séria e perigosa. Mas os supressores do sistema imunológico que a indústria
farmacêutica oferece como alternativa – Remicade, Enbrel, Humira e outros –
também são. Enquanto a AR ataca os tecidos do corpo, levando à inflamação das
articulações, tecidos adjacentes e órgãos, os supressores imunológicos podem
abrir uma brecha para câncer, infecções letais e
tuberculose.
Em 2008, a agência norte-americana para
alimentação e medicamentos (FDA) anunciou que 45 pessoas que tomavam Humira,
Enbrel, Humicade e Cimzia morreram por doenças causadas por fungos, e investigou
a relação do Humira com linfoma, leucemia e melanoma em crianças. Esse ano, a
FDA avisou que as drogas podedm causar “um raro tipo de câncer nas células
sanguíneas brancas” em jovens, e o Journal of the American Medical Association
(JAMA) advertiu o aparecimento de “infecções potencialmente fatais por legionela
e listeria”.
Medicamentos que suprem o sistema
imunológico também são perigosos para os bolsos. Uma injeção de Remicade pode
custar US$ 2.500; o suprimento de um mês de Enbrel custa US$ 1.500; o custo
anual do Humira é de US$ 20 mil.
Há alguns anos, a AR era diagnosticada com
base na presença do “fator reumatóide” e inflamações. Mas, graças ao marketing
guiado pela oferta da indústria farmacêutica, bastam hoje, para o diagnóstico,
enrijecimento e dor. (Atletas e pessoas que nasceram entes de 1970, entrem na
fila, por favor).
Além do espaço de manobra para o
diagnóstico e um bom nome, a AR possui outros requisitos das doenças campeãs de
vendas. “Só vai piorar” se não for tratada, diz WebMD, e é frequentemente
“subdiagnosticada” e pouco relatada, diz Heather Mason, da Abbott, porque “as
pessoas costumam não saber o que têm, por algum tempo”. Uma doença tão perigosa
que o tratamento custa US$20 mil por ano, mas que é tão súbita que você pode não
saber que tem? AR desponta como uma doença da moda.
Fibromialgia :
Outra doença pouco relatada é a
fibromialgia, caracterizada dores generalizadas e inexplicadas no corpo.
Fibromialgia é “quase a definição de uma necessidade médica não atendida”, diz
Ian Read, da Pfizer, que fabrica a primeira droga aprovada para fibromialgia, o
medicamento anticonvulsivo Lyrica. A Pfizer doou US$ 2,1 milhões a grupos sem
fins lucrativos em 2008 para “educar” médicos sobre a fibromialgia e financiou
anúncios de serviço da indústria farmacêutica que descreviam os sintomas e
citavam a droga. Hoje, a Lyrica lucra US$ 3 bilhões por
ano.
Mesmo assim, a Lyrica concorre com
Cymbalta, o primeiro antidepressivo aprovado para fibromialgia. A Eli Lilly
propôs o uso de Cymbalta para a “dor” física da depressão, em uma campanha
chamada “depressão machuca” antes da aprovação do tratamento para fibromialgia.
O tratamento de pacientes com fibromialgia com Lyrica ou Cymbalta custa cerca de
US$10 mil, segundo diários médicos.
A indústria farmacêutica e Wall
Street podem estar felizes com os medicamentos para fibromialgia, mas os
pacientes não. No site de avaliação de medicamentos,askapatient.com, pacientes
que usam Cymbalta relatam calafrios, problemas maxilares, “pings” elétricos em
seus cérebros, e problemas nos olhos. Nesse ano, quatro pacientes relataram a
vontade de se matar, um efeito colateral frequente do Cymbalta. Usuários de
Lyrica relatam no askapatient perda de memória, confusão, ganho extremo de peso,
queda de cabelo, capacidade de dirigir automóveis comprometida, desorientação,
espasmos e outros ainda piores. Alguns pacientes tomam os dois
medicamentos.
Disfunções do sono: Insônia no meio da noite
Disfunções do sono são uma mina de ouro
para os laboratórios porque todo mundo dorme – ou assiste TV, quando não
consegue. Para agitar o mercado de insônia, as
corporações
criaram subcategorias de insônia, como
crônica, aguda, transitória, inicial, de início tardio, causada pela menopausa,
e a grande categoria de sono não reparador. Nesse outono [primavera no
hemisfério Sul], as apareceu uma nova versão do Ambien para insônia “no meio da
noite”, chamado Intermezzo – ainda que Ambien seja, paradoxalmente, indutor de
momentos conscientes durante o sono. As pessoas “acordam” em um blackout do
Ambien e andam, falam, dirigem, fazem ligações e comem.
Muitos ficaram sabendo desse efeito do
Ambien quando Patrick Kennedy, ex-parlamentar de Rhode Island, dirigiu até
Capitol Hill para “votar” às 2h45min da manhã em 2006, sob efeito do remédio, e
bateu seu Mustang. Mas foi comer sob o efeito do Ambien que trouxe a pior
discussão sobre o medicamento. Pessoas em forma acordavam no meio de montanhas
de embalagens de pizza, salgadinhos e sorvete – cujo conteúdo tinha sido comido
pelos seus “gêmeos maus”, criados pelo remédio.
Sonolência excessiva e transtorno do sono
por turno de trabalho
Não é preciso dizer: pessoas com insônia
não estarão com os olhos brilhando e coradas no dia seguinte – tanto faz se elas
não tiverem dormido, ou se tiverem, em seu corpo, resíduos de medicamentos para
dormir. Na verdade, essas pessoas estão sofrendo da pouco reconhecida e pouco
relatada epidemia da Sonolência Excessiva durante o Dia. As principais causas da
SED são apnéia do sono e narcolepsia. Mas no ano passado, as corporações
farmacêuticas sugeriram uma causa relacionada ao estilo de vida: “transtorno do
sono por turno de trabalho”. Anúncios de Provigil, um estimulante que trata SED,
junto com Nuvigil, mostram um juiz vestindo um roupão preto, no trabalho, com a
frase “lutando para combater o nevoeiro?”.
Obviamente, agentes estimulantes
contribuem com a insônia, que contribui com problemas de sonolência durante o
dia, em um tipo de ciclo farmacêutico perpétuo. De fato, o hábito de tomar
medicamentos para insônia e para ficar alerta é tão comum que ameaça a criação
de um novo significado para “AA” – Adderal e Ambien.
Insônia que é
depressão
Disfunções do sono também deram nova vida
aos antidepressivos. Médicos agora prescrevem mais antidepressivos para insônia
que medicamentos para insônia, de acordo com a CNN. É também comum que eles
combinem os dois, já que “insônia e depressão frequentemente ocorrem
conjuntamente, mas não fica claro qual é a causa e qual é o
sintoma”.
WebMD concorda com o uso das duas drogas.
“Pacientes deprimidos com insônia que são tratados com antidepressivos e
remédios para dormir se saem melhor que aqueles tratados apenas com
antidepressivos”, escreve.
De fato, muitas das novas doenças de
massa, desde DDAH em adultos e AR até fibromialgia são tratadas com medicamentos
novos junto com outros que já existiam e que não estão funcionando. É uma
invenção das corporações polifarmácia. Isso lembra do dono de loja que diz “eu
sei que 50% da minha propaganda é desperdiçada – só não sei qual
50%”.
–
(*) Martha Rosenberg escreve sobre o impacto das indústrias farmacêuticas, alimentícias e de armamentos na saúde pública.
(*) Martha Rosenberg escreve sobre o impacto das indústrias farmacêuticas, alimentícias e de armamentos na saúde pública.
Postado por
em 24
maio 2012 às 15:59
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