O mundo vem sofrendo transformações em uma velocidade fantástica quase que
imperceptível à inteligência comum. Estamos acostumados com ameaças e riscos que
podemos mensurar, inimigos que podemos ver e só então avaliar suas
potencialidades. O que é invisível aos olhos sempre trouxe insegurança, terror e
pânico, como ocorria com os navegadores da antiguidade que temiam cair em
abismos e ser devorados por monstros marinhos ou, na idade média, com as crenças
em bruxaria, demônios e pragas. Este sentimento está profundamente enraizado na
cultura humana até hoje e pode justificar, em parte, o medo em relação aos
atentados terroristas das duas últimas décadas, o que se denominou de inimigo
sem rosto e que, forçosamente, recaiu na figura de Osama Bin Laden, como
parâmetro de um mal que não poderia ser visto, tampouco combatido, apenas
lamentado pelas consequências que causava.
Agora, estamos avançando para
uma nova era, a do ciberespaço, e surgem diferentes ameaças com o
desenvolvimento crescente das tecnologias digitais e cujos perigos, ainda mais
letais, são ignorados pela maioria das pessoas. Estamos nos referindo aos
ataques cibernéticos, as guerras cibernéticas, ao ciberterrorismo e a
ciberdelinquencia que emergem como novos inimigos da civilização e para os quais
ainda não possuímos domínio tecnológico suficiente para, na maioria dos casos,
identificar a origem e neutralizá-los, tampouco uma legislação internacional que
discipline a utilização do espaço digital.
Assim, acabamos tomando
consciência de ameaças invisíveis como os vírus, códigos maliciosos, malware,
botnet que, como as antigas epidemias, atingem o espaço digital de forma
silenciosa e desapercebida, em alguns casos, causando danos irreparáveis. A dez
anos, as estimativas apontavam para a existência de 40 mil tipos de vírus ou
códigos maliciosos. Em 2008 esta cifra atingiu 13 milhões e atualmente,
calcula-se que a cada dois segundos, um novo vírus é lançado na internet, o que
representa 55 mil a cada dia. Estimativas da empresa Symantec aponta para
prejuízos em torno de 6,8 milhões de dólares em 2009 contra 7,2 milhões de
dólares em 2010, resultado do roubo direto de dados e informações. No ano
passado, foram registrados em todo o mundo 855 incidentes comprometendo 174
milhões de dados pessoais.
Após o primeiro ataque de guerra cibernética
da história registrado na Estônia em 2007 e, posteriormente na Georgia, durante
o conflito com a Rússia em 2008, ambos paralisando alguns dos serviços
essenciais a população daqueles países, a questão do uso do espaço digital como
arma começou a ser amplamente debatida e vem despertando o interesse da
comunidade internacional. Sabemos que atinge não apenas sites e sistemas de
defesa de nações e de empresas privadas mas, sobretudo, as redes sociais que em
2010 atingiram a fantástica marca de 945 milhões de visitantes. E isto ocorre
especialmente para espionagem com escolha de vítimas potenciais para futuros
sequestros por meio do conhecimento de dados como renda, estilo de vida,
horários, parentes e relações próximas dos internautas. Alguns e-mails também
são facilmente monitorados com o objetivo de roubar dados pessoais além de
senhas bancárias.
No ano de 2009, foi descoberto o mais poderoso vírus
criado até o momento, o Stuxnet com a plataforma flame que explora
vulnerabilidades de todo e qualquer sistema computacional e que infectou as
centrífugas de enriquecimento de urânio do Irã em 2010 em uma ação de sabotagem.
Permite ainda, copiar arquivos, recuperar textos deletados e monitorar tudo o
que é digitado. Ainda não foi comprovada sua procedência, embora especula-se que
tenha sido desenvolvido pelos EUA em conjunto com Israel para retardar o
programa nuclear iraniano.
Com relação ao Brasil, este ocupa a primeira
posição na América Latina na produção dos chamados códigos maliciosos e a quinta
colocação no rancking mundial. Para se ter uma ideia do significado desta
constatação basta o fato de que de todos os spams que circulam na web, 6% são
originados no país. No ano passado, ocorreu o maior ciber ataque da história
brasileira, dirigido a sites governamentais e de empresas, patrocinados por
grupos de pirataria digital internacionais. O fatal ErrorCrew, assumiu a
violação do site do Exército divulgando dados de militares no twitter.
Posteriormente, foi a vez da Presidência da República, violado pelo
LulzSecBrasil, seguidos de ações contra a Petrobrás e o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Uma situação extremamente preocupante e
de maior amplitude é a dependência crescente das infraestruturas urbanas
interligadas por sistemas em redes como o tráfego aéreo, de trens e metros,
elétricos, bancários e de comunicações. Todos, extremamente vulneráveis a um
ataque cibernético com consequências caóticas especialmente para a população
como o descrito no apocalíptico filme "Duro de matar 4.0", lançado em 2007. Há
uma década, estas ameaças globais poderiam ser consideradas apenas ficção
científica mas na atualidade, o que Eugene Kaspersky chama de "armagedon
cibernético" é uma possibilidade bastante factível de ocorrer.
André Luís Woloszyn
http://www.defesanet.com.br/cyberwar/noticia/7411/Ciberataques--uma-nova--ameaca-a-civilizacao--
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