sábado, 14 de dezembro de 2013

COMO TIREI O BRASIL DA TERCEIRA GUERRA MUNDIAL...

OU SIMPLESMENTE: COMO EVITEI UM “INCIDENTE DIPLOMÁTICO” EVITANDO A PRISÃO DE UM TURISTA ALEMÃO

Esta é uma história real...
Nos áureos tempos de nosso histórico Período Presidencial Militar, que muitos chamam de Ditadura, houve uma época, quando já estando na reserva remunerada, eu fora convidado para colocar ordem no Museu Histórico do CBMERJ.

Um dia, quando me encontrava mergulhado em traduções de equipamentos do museu para descobrir sua verdadeira origem e definição, entrou um soldado espavorido em meu gabinete, suando meio engasgado gritando:
- Coronel a Guarda está prendendo um americano na frente do quartel.
Incontinente, corri para o local do evento e, em lá chegando, vi uma cena, que, ao mesmo tempo, era grotesca, triste e engraçada. Nossos soldados tentavam soltar as mãos de um rapaz apavorado, de tez avermelhada, aparentando 25 a 30 anos, que agarrado às grades do “Campo de Santana”, parque fronteiriço ao QCG, tentava livrar-se das garras daqueles possíveis torturadores tupiniquins.


Também, pelo que já ouvira nos jornais estrangeiros, ele já se imaginava desaparecendo nas masmorras de seus algozes. Já cheguei gritando “Para tudo”. Calminha e digam-me o que está acontecendo.
O Cabo da Guarda, ufanando-se em sua graduação, disse gritando:
- Este americano está tentando tirar retrato da frente do quartel e, pelas ordens que temos, é proibido fotografar instalações militares.
Eu retruquei-lhe em voz alta:
- Primeiro baixe a voz quando falar comigo, pois eu sou um oficial, mesmo estando à paisana, segundo, em legítimo carioquês eu repliquei: “Tu é uma besta”. Há quanto tempo a Ditadura já acabou? E mais, você sabia que os satélites americanos hoje podem fotografar uma placa de carro? Que lá de cima eles veem tudo que se passa no pátio deste quartel? Solta o homem. Você quer espantar os turistas do Rio de Janeiro? Deixe-me falar com ele. Foi aí que entrou a diplomacia do malandro carioca: “Do you speak english? Are you an american?” O coitado, suando em bicas, gemeu:
- No, german.
Aí eu pensei, Gott sei danke, vou salvar a pátria. O infeliz não falava nada de inglês e eu aproveitando minha verve germânica perguntei-lhe:
- Porque então não continuamos nosso Unterhaltung em alemão?
Seus olhos faiscaram de surpresa, até que enfim alguém me entende. Eu então lhe disse aguarde um momentinho que vamos conversar e virei para o Comandante da Guarda e gritei com ele:
- Tire esta tropa daqui, que já está juntando gente, enquanto converso com ele. E tem mais, nosso quartel é uma obra de arte que deveria ser fotografada pelo mundo inteiro, por dentro e por fora, isto não é um quartel do exército.
Usei então a psicologia diplomática do malandro sorridente recepcionista carioca de turismo.
- Meu amigo, o que está havendo aqui é uma falha nas comunicações. O guarda não está querendo lhe prender, mas como você não fala inglês (alias nem os outros sentinelas), só alemão vocês não estão se entendendo. Na realidade o guarda estava tentando lhe trazer para dentro para que você tivesse o prazer de fotografar tudo em detalhes.
Ele me contara então sua desdita, tinha sido roubado em seus documentos e dinheiro e estava perdido, quando viu a beleza da fachada de nosso quartel e resolvera fotografar.
Então comecei a descrever-lhe as qualidades daquele castelo, quase medieval, mas que era de estilo clássico neo-gótico, do século XIX (1893-1908), e o material de sua construção foi todo importado da Europa e dos Estados Unidos por nosso último 'Kaiser', Dom Pedro II. Você imaginaria que todo aço e ferro que seguram as estruturas desta obra de arte são todos de Krupp alemão? Que as tábuas corridas que forram nossos pavimentos são de original pinho de Riga? Que os lustres dos gabinetes foram importados da Bohemia e que os vidros dos espelhos e armários são de bisotés français? Que se você olhar bem de perto você vai reconhecer detalhes existentes no “Castelo de Neuschwanstein”? Pois agora te digo amigo, você pode fotografar o que quiser, dentro e fora, e está convidado a almoçar comigo.
Alias eu notara que ele possuía um certo ar infantil proveniente de algum problema psicológico, fato que confirmei através de sua família (Jauernig) alguns meses depois, quando enviaram-me uma carta de agradecimento pelo que fizera por seu filho. 
Ao chegar ao rancho de oficiais, resumi rapidamente a história e pedi-lhes que sorrissem para ele para demonstrar boas vindas.
Resumindo a história, levei-o ao museu, ao gabinete do comando, ao salão nobre, que é um luxo do tempo de Dom Pedro II.
Naquela noite ele dormiu no quartel, jantou conosco, tomou o café da manhã e logo depois arranjei uma viatura vermelha, com “blaulicht”, para leva-lo ao consulado, pois eu passara a noite ligando para a casa do cônsul “Dunker” que felizmente era meu amigo e eu tinha o telefone de sua casa, coisa que ele não dava pra qualquer um.

Mandei fotos de sua estada no quartel para sua família e meses depois recebi de presente, junto com o agradecimento, um quadro que tenho muito apreço, por ter sido ganho em uma ocasião especial: Emoldurado em dourado com a efígie de São Floriano, padroeiro dos Bombeiros de língua alemã.












(Autor: Asdrúbal Da Silva Ortiz)
Asdrúbal Da Silva Ortiz é Coronel BM RR, oficial da Reserva do CBMERJ e atual comandante do Corpo de Bombeiros Voluntários do Rio de Janeiro.

Um comentário:

ASDRÚBAL DA SILVA ORTIZ disse...

MARIA VANILDES ÉS UMA EXPERT EM TRANSFORMAR UM SIMPLES CONTO DE MINHAS AVENTURAS EM UMA OBRA DE ARTE EM TEU BLOG. OBRIGADO PELA AJUDA. FELIZ NATAL DESDE JÁ.