segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

UM OTÁRIO NA ALEMANHA

UMA AVENTURA DO COTIDIANO
Asdrúbal da Silva Ortiz

OS HOMENS SÃO FANTOCHES NAS GARRAS DE UMA MULHER EXUBERANTE.

Este fato aconteceu no ano de 1976. Eu era Major BM e fui enviado à Berlin para um Congresso Internacional de Bombeiros junto ao Comandante Geral do CBMERJ escolhido para servir de intérprete em cinco línguas. Ficamos quinze dias na Europa visitando Bombeiros e defesa civil de vários países, sendo que sete dias se passaram em Berlin onde acontecera o Congresso do CTIF.

À noite, após as seções do congresso, tínhamos folga para passear pelas redondezas do Hall das convenções.
Um dia, rodando a pé no centro da cidade, vi-me perante uma figura que fez-me faiscar a visão.
Diante de mim, fixando-me com seus olhos cinza azulados como os da Ingrid Bergman, vi uma deusa nórdica que naquele momento me pareceu uma Walkiria wagneriana advinda de Asgard, o céu dos deuses nórdicos.
Meu coração começou a pulsar como se eu, naquele momento, sentisse que, de um momento para outro, seria alçado em seus braços num cavalo alado em direção ao paraíso dos guerreiros mortos em combate. Aproximei-me daquela visão branca como a neve e de cabelos dourados como um campo de trigo maduro ao refletir o sol.
Meio sem palavras, onde meu harddrive cerebral já misturava alemão com inglês, francês e português. Já nem sabia mais o que dizia.
Tentei entabolar um interlóquio que me permitisse um conquista que já fazia parte de meus sonhos juvenis: Eu, branco amorenado, tinha o desejo de namorar ou possuir um espécime eslavo ariano de cabelos louros genuínos.
Ao começarmos nosso bate-papo, eu embasbacado com tanta beleza, não lhe via defeitos, pois para mim sua boca parecia uma cornucópia de onde jorravam ambrosias. Ela então sugeriu que fôssemos a um barzinho onde poderíamos, sentados, conversar enquanto tomávamos um “drink”. Logo ao chegarmos ela perguntou-me se podia pedir uma bebida típica local e eu também pedi uma para mim.
Após algum tempo eu já sabia que ela era finlandesa e não alemã e só faltava conhecer a família dela. Depois de algum tempo notei que ela já bebera várias garrafinhas daquela coisa de que não me lembro o nome.
Resolvi então olhar o cardápio para tentar pedir algo que me agradasse, pois na realidade eu não estava gostando daquilo. Ao abrir o “menu” por acaso vi o preço das garrafinhas que ela tanto pedia. Ao ver o preço cabeludo de cada bebida solicitada, tomei um choque, pois em cerca de meia hora eu já devia cerca de quatrocentos dólares só com bebidas que nem me deram qualquer prazer.
Chamei o garçom e ele veio com uma conta astronômica que eu nem tinha dinheiro suficiente no bolso para pagar. Depois de um acordo, que mais me pareceu um interrogatório do DOPS, o dono da baiuca me concedeu a gentileza de deixar-me pagar com cheques de viagem, que por sorte eu tinha no bolso, ou ele chamaria a polícia ou talvez eu tomasse porrada.
A gente precisar errar pra aprender. Saí Dalí acompanhado da louraça, que, de um momento para outro, transformara-se de fada em bruxa. Ela ainda tentou levar-me para um motel onde teríamos uma noite inesquecível.
Mas à esta hora eu já perdera toda a tesão, tivera perdida uma pequena fortuna em minutos e minha “Lorelei” transformara-se em uma górgona bruxa de “Gwrach”.
Eis aí uma história por onde todos homens já passaram e não contam para os outros para não parecerem babacas como eu fui.
...
ASDRÚBAL DA SILVA ORTIZ é CORONEL BM RR, OFICIAL DA RESERVA DO CBMERJ E ATUAL COMANDANTE DO CORPO DE BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DO RIO DE JANEIRO.

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